O capital de giro é o combustível que mantém as operações diárias da sua empresa funcionando. Ele representa os recursos necessários para financiar o ciclo operacional do negócio, desde a compra de matéria-prima até o recebimento das vendas. No entanto, muitos empreendedores enfrentam o desafio de ter grande parte de seus recursos financeiros imobilizados nesse ciclo, o que limita a capacidade de investimento e crescimento.
De acordo com dados do Sebrae, problemas relacionados ao capital de giro estão entre as principais causas de mortalidade de pequenas empresas no Brasil. Isso ocorre porque muitos negócios não conseguem equilibrar adequadamente suas entradas e saídas de caixa, criando uma dependência excessiva de recursos externos, como empréstimos bancários com altas taxas de juros.
Neste artigo, vamos explorar estratégias práticas e eficientes para redução de capital de giro na sua empresa, permitindo que você libere recursos para investimentos estratégicos e fortaleça a saúde financeira do seu negócio. Abordaremos desde a otimização do ciclo financeiro até técnicas avançadas de gestão de estoques e negociação com fornecedores, com exemplos reais de empresas brasileiras que implementaram essas estratégias com sucesso.
Compreendendo o ciclo financeiro e seu impacto no capital de giro

Antes de mergulharmos nas estratégias de redução do capital de giro necessário, é fundamental entender como funciona o ciclo financeiro da sua empresa e como ele afeta diretamente a necessidade de capital de giro.
O que é o ciclo financeiro?
O ciclo financeiro, também conhecido como ciclo de caixa, representa o tempo entre o pagamento aos fornecedores e o recebimento das vendas. Quanto maior esse ciclo, maior será a necessidade de capital de giro para manter as operações funcionando.
O ciclo financeiro é calculado pela seguinte fórmula:
Ciclo Financeiro = Ciclo Operacional – Prazo Médio de Pagamento a Fornecedores (PMPF)
Onde o Ciclo Operacional é a soma do Prazo Médio de Estocagem (PME) e do Prazo Médio de Recebimento (PMR).
Como o ciclo financeiro impacta o capital de giro necessário
Para entender melhor esse impacto, vamos considerar um exemplo prático:
Uma empresa de manufatura tem um PME de 45 dias (tempo que a matéria-prima fica em estoque até ser vendida como produto acabado), um PMR de 30 dias (prazo concedido aos clientes) e um PMPF de 20 dias (prazo obtido com fornecedores).
Nesse caso, o ciclo financeiro seria:
- Ciclo Operacional = 45 dias (PME) + 30 dias (PMR) = 75 dias
- Ciclo Financeiro = 75 dias – 20 dias (PMPF) = 55 dias
Isso significa que a empresa precisa financiar suas operações por 55 dias até receber o dinheiro das vendas. Se o custo diário operacional for de R$ 10.000, a necessidade de capital de giro seria de aproximadamente R$ 550.000.
Agora, imagine que essa empresa consegue reduzir seu PME para 30 dias, aumentar seu PMPF para 30 dias e reduzir seu PMR para 25 dias. O novo ciclo financeiro seria:
- Ciclo Operacional = 30 dias (PME) + 25 dias (PMR) = 55 dias
- Ciclo Financeiro = 55 dias – 30 dias (PMPF) = 25 dias
Com essas mudanças, a necessidade de capital de giro cairia para R$ 250.000, liberando R$ 300.000 que poderiam ser utilizados para investimentos ou redução de dívidas.
Estratégias para redução do prazo médio de estocagem (PME)

O estoque representa um dos principais componentes do capital de giro e, muitas vezes, é onde se encontram as maiores oportunidades de otimização. Vamos explorar algumas estratégias eficazes para reduzir o prazo médio de estocagem:
1. Implementação de sistemas Just-in-Time (JIT)
O sistema Just-in-Time busca minimizar os estoques, recebendo materiais apenas quando necessário para a produção. Embora seja um conceito originado em grandes indústrias, PMEs brasileiras têm adaptado essa filosofia com resultados impressionantes.
Caso real: Uma indústria têxtil de médio porte de Santa Catarina implementou um sistema JIT adaptado, reduzindo seu PME de 90 para 45 dias. Isso liberou aproximadamente R$ 500 mil em capital de giro, que foi reinvestido em marketing digital, resultando em um aumento de 22% nas vendas no ano seguinte.
2. Análise ABC de estoques
A análise ABC classifica os itens de estoque em três categorias:
- A: Itens de alto valor que representam cerca de 80% do valor do estoque (geralmente 20% dos itens)
- B: Itens de valor médio (cerca de 15% do valor e 30% dos itens)
- C: Itens de baixo valor (cerca de 5% do valor e 50% dos itens)
Ao focar o controle rigoroso nos itens A, você pode reduzir significativamente o capital imobilizado em estoque.
Dica prática: Utilize sistemas de gestão de estoque que permitam classificação ABC automática e estabeleça políticas de reposição diferentes para cada categoria. Para itens A, considere revisões semanais e lotes menores; para itens C, revisões mensais e lotes maiores podem ser mais eficientes.
3. Utilização de previsão de demanda
Ferramentas de previsão de demanda, mesmo as mais simples, podem ajudar a evitar tanto o excesso quanto a falta de estoque. Existem softwares acessíveis para PMEs que utilizam dados históricos de vendas para prever demandas futuras, considerando sazonalidades e tendências.
Ferramenta recomendada: Planilhas de previsão de demanda com análise de sazonalidade podem ser um bom começo para empresas menores. Para negócios em crescimento, sistemas como Conta Azul, Bling e Omie oferecem módulos de previsão de demanda integrados à gestão de estoque.
4. Parcerias estratégicas com fornecedores
Estabelecer parcerias de longo prazo com fornecedores pode permitir arranjos como consignação, onde você só paga pelos produtos quando eles são vendidos, ou entregas mais frequentes em lotes menores.
Exemplo prático: Uma rede de farmácias independente do interior de São Paulo estabeleceu parcerias com seus principais distribuidores para entregas três vezes por semana, em vez de entregas quinzenais. Isso reduziu seu PME em 40%, liberando capital para abertura de uma nova unidade.
Estratégias para aumento do prazo médio de pagamento a fornecedores (PMPF)

Aumentar o tempo que você leva para pagar seus fornecedores, desde que feito de forma ética e negociada, pode ter um impacto significativo na redução da necessidade de capital de giro. Vamos explorar algumas estratégias:
1. Negociação transparente com fornecedores
Muitas empresas não percebem que há espaço para negociação de prazos com fornecedores, especialmente quando se tem um histórico de bom pagamento. Abordagens transparentes, explicando a estratégia de crescimento da empresa e como prazos maiores podem beneficiar ambas as partes no longo prazo, tendem a ser bem-sucedidas.
Abordagem recomendada: Prepare uma apresentação mostrando o histórico de compras, projeções futuras e como o aumento de prazo permitirá que você compre volumes maiores. Ofereça contrapartidas, como programação antecipada de pedidos ou exclusividade em determinadas linhas.
2. Diversificação de fornecedores
Ter múltiplas opções de fornecimento não apenas reduz riscos operacionais, mas também aumenta seu poder de negociação. Fornecedores que sabem que você tem alternativas tendem a oferecer melhores condições.
Caso real: Uma empresa de materiais de construção do Paraná conseguiu aumentar seu PMPF médio de 28 para 45 dias ao diversificar sua base de fornecedores, incluindo importações diretas para produtos de maior valor. Isso reduziu sua necessidade de capital de giro em aproximadamente 20%.
3. Utilização de instrumentos financeiros específicos
Existem instrumentos financeiros que podem ajudar a estender prazos sem prejudicar fornecedores, como o Confirme (também conhecido como “risco sacado” ou “confirming”).
Como funciona: Sua empresa fecha um acordo com um banco que oferece aos seus fornecedores a opção de antecipar o recebimento mediante uma taxa de desconto negociada. Você continua pagando no prazo estendido acordado, e o fornecedor tem a flexibilidade de receber antecipadamente se precisar de liquidez.
4. Planejamento de compras sazonais
Muitos setores têm períodos de baixa demanda para fornecedores, quando estes estão mais dispostos a negociar condições favoráveis. Identificar esses períodos e planejar compras estratégicas pode resultar em prazos maiores.
Exemplo prático: Uma empresa de confecção de São Paulo negocia compras de tecidos para o inverno durante o verão, quando as tecelagens estão com capacidade ociosa. Com isso, consegue prazos 50% maiores e ainda obtém descontos de até 15% nos preços.
Estratégias para redução do prazo médio de recebimento (PMR)

Receber mais rápido dos clientes é uma das formas mais eficazes de reduzir a necessidade de capital de giro. Vamos explorar algumas estratégias que podem ser implementadas sem prejudicar as vendas:
1. Políticas de desconto para pagamento antecipado
Oferecer descontos para pagamentos à vista ou antecipados pode acelerar significativamente o ciclo de recebimento. O segredo está em calibrar o desconto para que seja atrativo para o cliente, mas ainda vantajoso para sua empresa.
Cálculo recomendado: Para determinar se um desconto é vantajoso, compare-o com o custo de capital da sua empresa. Por exemplo, se seu custo de capital é de 18% ao ano (1,5% ao mês) e você oferece 3% de desconto para pagamento à vista em vez de 60 dias, você está efetivamente pagando 1,5% ao mês pelo adiantamento, o que seria equivalente ao seu custo de capital.
2. Diversificação de meios de pagamento
Oferecer múltiplas opções de pagamento, especialmente as digitais como PIX, pode acelerar significativamente os recebimentos. Segundo pesquisa da Febraban, empresas que adotaram o PIX como forma de pagamento reduziram seu PMR em média 2,5 dias.
Dica prática: Integre seu sistema de vendas com plataformas de pagamento que ofereçam múltiplas opções e automatizem o processo de reconciliação bancária. Isso não apenas acelera os recebimentos, mas também reduz erros e trabalho manual.
3. Automação de cobrança
Sistemas automatizados de cobrança podem enviar lembretes proativos antes do vencimento e acompanhar de perto faturas em atraso, reduzindo significativamente o tempo médio de recebimento.
Ferramenta recomendada: Plataformas como Asaas, Vindi e Superlogica oferecem soluções de cobrança automatizada acessíveis para PMEs, com recursos como lembretes por e-mail e WhatsApp, renegociação online e dashboards de acompanhamento.
4. Análise de crédito e segmentação de clientes
Implementar um processo estruturado de análise de crédito e segmentar clientes conforme seu histórico de pagamento permite oferecer condições diferenciadas, reduzindo riscos e melhorando o PMR médio.
Caso real: Uma distribuidora de materiais elétricos de Minas Gerais implementou um sistema de classificação de clientes em quatro categorias (A, B, C e D) com base no histórico de pagamentos. Para clientes A, oferecia prazos de até 60 dias; para D, apenas pagamento antecipado. Em seis meses, seu PMR caiu de 45 para 32 dias, e a inadimplência reduziu 60%.
Otimização do ciclo de conversão de caixa (CCC)

O Ciclo de Conversão de Caixa (CCC) é um indicador que mede quanto tempo leva para uma empresa converter seus investimentos em estoque e outras despesas operacionais em caixa proveniente de vendas. Reduzir esse ciclo é uma estratégia poderosa para diminuir a necessidade de capital de giro.
1. Análise integrada do ciclo financeiro
A redução do CCC exige uma visão integrada do ciclo financeiro, analisando simultaneamente PME, PMPF e PMR. Muitas vezes, pequenas melhorias em cada um desses componentes podem resultar em uma redução significativa do capital de giro necessário.
Metodologia recomendada: Crie um dashboard que monitore esses três indicadores mensalmente, estabelecendo metas progressivas de melhoria para cada um. Por exemplo, reduzir o PME em 5 dias, aumentar o PMPF em 7 dias e reduzir o PMR em 3 dias pode diminuir seu CCC em 15 dias.
2. Sincronização de recebimentos e pagamentos
Alinhar os ciclos de pagamento e recebimento pode reduzir significativamente a necessidade de capital de giro. Idealmente, você deveria receber de seus clientes antes ou simultaneamente ao pagamento de seus fornecedores.
Exemplo prático: Uma empresa de serviços de TI do Rio Grande do Sul reestruturou seus contratos para faturamento no início do mês, com pagamento em 15 dias, enquanto negociou com fornecedores pagamentos no dia 20. Isso criou um ciclo positivo onde os recebimentos dos clientes financiavam os pagamentos aos fornecedores, reduzindo a zero a necessidade de capital de giro para essa operação.
3. Implementação de indicadores de alerta
Estabelecer indicadores de alerta que sinalizem quando o CCC está se deteriorando permite ações corretivas rápidas antes que problemas de caixa se materializem.
Indicadores recomendados:
- Aumento do PME acima de 10% da média histórica
- Redução do PMPF abaixo de 5% da média negociada
- Aumento do PMR acima de 15% do prazo concedido
- Aumento do percentual de vendas a prazo sobre o total
4. Utilização de tecnologia para gestão do CCC
Sistemas de gestão financeira modernos oferecem ferramentas específicas para monitoramento e otimização do CCC, permitindo simulações de cenários e identificação de oportunidades de melhoria.
Caso real: Uma empresa de móveis planejados de São Paulo implementou um sistema de gestão financeira com módulo específico para análise do CCC. Após seis meses de uso, identificou que 30% de seu estoque tinha rotação muito baixa. Ao realizar uma liquidação desses itens e ajustar sua política de compras, reduziu seu PME em 40% e liberou R$ 1,2 milhão em capital de giro.
Estratégias financeiras complementares

Além das estratégias operacionais, existem abordagens financeiras que podem ajudar a reduzir a necessidade de capital de giro:
1. Antecipação de recebíveis
A antecipação de recebíveis, quando utilizada estrategicamente (não como solução emergencial recorrente), pode ser uma ferramenta eficaz para equilibrar o fluxo de caixa em períodos específicos.
Dica prática: Compare as taxas de diferentes instituições financeiras e fintechs. Atualmente, plataformas como Antecipa, Monkey e F(x) oferecem taxas mais competitivas que bancos tradicionais para PMEs com bom histórico.
2. Linhas de crédito rotativo
Ter uma linha de crédito pré-aprovada, mesmo que não a utilize imediatamente, proporciona segurança para enfrentar variações sazonais ou oportunidades de negócio sem comprometer o capital de giro.
Recomendação: Negocie linhas de crédito em momentos de boa saúde financeira, quando seu poder de barganha é maior. Linhas garantidas por recebíveis ou estoques geralmente têm taxas mais atrativas que capital de giro tradicional.
3. Planejamento tributário
Um planejamento tributário eficiente pode reduzir significativamente as saídas de caixa relacionadas a impostos, contribuindo para a redução da necessidade de capital de giro.
Exemplo prático: Uma empresa de comércio eletrônico do Espírito Santo, após consultoria tributária especializada, mudou seu regime de tributação e reorganizou sua operação logística, reduzindo sua carga tributária em 22% e melhorando seu fluxo de caixa em aproximadamente R$ 30 mil mensais.
4. Gestão de ativos ociosos
Identificar e monetizar ativos subutilizados pode liberar capital imobilizado e reduzir a necessidade de financiamento externo.
Caso real: Uma pequena indústria metalúrgica de Joinville realizou um inventário de equipamentos e identificou máquinas utilizadas menos de 30% do tempo. Ao vender duas dessas máquinas e terceirizar essa etapa da produção, liberou R$ 350 mil em capital e ainda reduziu custos fixos de manutenção.
Implementação de um sistema de gestão de capital de giro

Para que as estratégias discutidas sejam efetivas, é fundamental implementar um sistema estruturado de gestão de capital de giro. Vamos explorar os componentes essenciais desse sistema:
1. Estabelecimento de métricas e KPIs
Definir indicadores-chave de desempenho (KPIs) relacionados ao capital de giro permite monitorar a eficácia das estratégias implementadas e identificar áreas que precisam de atenção.
KPIs recomendados:
- Ciclo de Conversão de Caixa (CCC)
- Prazo Médio de Estocagem (PME)
- Prazo Médio de Recebimento (PMR)
- Prazo Médio de Pagamento a Fornecedores (PMPF)
- Necessidade de Capital de Giro (NCG)
- Índice de Liquidez Corrente
- Giro de Estoque
2. Criação de um comitê de gestão de capital de giro
Estabelecer um comitê multidisciplinar, envolvendo áreas como finanças, compras, vendas e operações, garante uma visão integrada e maior comprometimento com as metas estabelecidas.
Estrutura sugerida: Reuniões quinzenais com representantes das áreas-chave, análise dos KPIs, identificação de desvios e definição de planos de ação. Mensalmente, uma reunião mais ampla para revisão de estratégias e ajustes de metas.
3. Implementação de ferramentas de análise e previsão
Utilizar ferramentas que permitam não apenas analisar o histórico, mas também projetar cenários futuros, é essencial para uma gestão proativa do capital de giro.
Ferramentas recomendadas: Além de sistemas ERP com módulos financeiros, planilhas avançadas de fluxo de caixa com projeções de 90 a 180 dias podem ser eficazes para empresas menores. Plataformas como Conta Azul, Omie e Nibo oferecem recursos específicos para gestão de capital de giro acessíveis para PMEs.
4. Capacitação da equipe
Investir na capacitação da equipe sobre conceitos e práticas de gestão de capital de giro aumenta a eficácia das estratégias implementadas.
Recursos de capacitação: O Sebrae oferece cursos gratuitos sobre gestão financeira e capital de giro. Instituições como FGV e IBMEC disponibilizam cursos online acessíveis sobre o tema. Associações setoriais frequentemente promovem workshops específicos para diferentes segmentos.
Desafios e limitações na redução do capital de giro necessário

Embora as estratégias apresentadas sejam eficazes, é importante reconhecer que existem desafios e limitações na sua implementação:
1. Resistência interna à mudança
Mudar práticas estabelecidas, como políticas de estoque ou condições de venda, frequentemente encontra resistência interna, especialmente em empresas familiares com processos arraigados.
Abordagem recomendada: Implementar mudanças graduais, começando com projetos-piloto em áreas específicas. Demonstrar resultados rápidos ajuda a conquistar apoio para mudanças mais amplas.
2. Pressões competitivas do mercado
Em alguns setores, práticas como prazos longos para clientes são padrão de mercado, limitando a capacidade de reduzir o PMR sem perder competitividade.
Estratégia alternativa: Quando não é possível reduzir prazos, foque em diferenciais que justifiquem condições mais favoráveis, como qualidade superior, atendimento personalizado ou serviços agregados.
3. Sazonalidade e ciclos de negócio
Empresas com forte sazonalidade enfrentam desafios adicionais na gestão de capital de giro, pois precisam acumular estoques em determinados períodos.
Caso real: Uma empresa de artigos natalinos do Rio Grande do Sul desenvolveu uma estratégia de “entressafra” com produtos para outras datas comemorativas, reduzindo a ociosidade de recursos e melhorando seu ciclo financeiro anual. Isso reduziu sua necessidade de capital de giro em aproximadamente 30%.
4. Limitações tecnológicas e de informação
Muitas PMEs ainda operam com sistemas precários de gestão, dificultando a obtenção de informações precisas para tomada de decisão.
Solução gradual: Iniciar com ferramentas básicas, como planilhas bem estruturadas, e evoluir gradualmente para sistemas mais sofisticados à medida que a cultura de gestão baseada em dados se fortalece.
Conclusão: Transformando a gestão de capital de giro em vantagem competitiva
A redução da necessidade de capital de giro vai muito além de uma questão financeira – é uma estratégia que pode transformar-se em vantagem competitiva sustentável. Empresas que conseguem operar com menor necessidade de capital de giro têm maior flexibilidade para investir em inovação, expansão e melhoria de processos, enquanto seus concorrentes continuam imobilizando recursos no ciclo operacional.
As estratégias apresentadas neste artigo – desde a otimização de estoques e negociação com fornecedores até a aceleração de recebimentos e implementação de sistemas de gestão integrados – formam um conjunto de ferramentas que podem ser adaptadas à realidade específica do seu negócio.
O segredo para o sucesso está na implementação gradual e consistente, no monitoramento constante dos resultados e na criação de uma cultura organizacional focada na eficiência do ciclo financeiro. Comece identificando as áreas com maior potencial de melhoria na sua empresa, estabeleça metas realistas e celebre as conquistas ao longo do caminho.
Lembre-se: cada dia reduzido no seu ciclo de conversão de caixa representa recursos liberados para impulsionar o crescimento do seu negócio. Em um ambiente econômico desafiador como o brasileiro, essa pode ser a diferença entre sobreviver e prosperar.
Biografia do Autor
William Galeskas é especialista em contabilidade e consultoria tributária com formação pela Universidade Nove de Julho. Com mais de 18 anos de experiência em planejamento fiscal, atua como Diretor na MG Consultoria Empresarial e da Hector Contador Digital desde 2018, onde lidera projetos de consultoria fiscal e minimização de carga tributária para empresas de diversos portes.
É especialista na implementação de SPED Fiscal e EFD (Contribuições), recuperação de créditos tributários e planejamento estratégico empresarial. Sua expertise inclui sistemas SAP, conformidade com IFRS e US GAAP, além de domínio das normas Sarbanes-Oxley. Sua abordagem combina análise financeira detalhada com estratégias práticas para otimização tributária, auxiliando empresas a maximizarem resultados dentro do contexto regulatório brasileiro. William é Editor-Chefe do Blog da Renda Maior.
Perguntas Frequentes (FAQ) sobre redução de capital de giro necessário
1. Qual é a diferença entre capital de giro e necessidade de capital de giro?
O capital de giro representa os recursos disponíveis para financiar as operações da empresa (ativo circulante menos passivo circulante), enquanto a necessidade de capital de giro (NCG) indica quanto a empresa precisa de recursos para financiar seu ciclo operacional, considerando apenas as contas operacionais (excluindo caixa e empréstimos de curto prazo).
2. É possível operar com necessidade de capital de giro negativa?
Sim, algumas empresas conseguem operar com NCG negativa, o que significa que seus passivos operacionais (como fornecedores) financiam não apenas o ciclo operacional, mas geram excedentes que podem ser aplicados. Isso é comum em setores como varejo de grande porte, onde as vendas são predominantemente à vista e os fornecedores concedem prazos maiores.
3. Quais setores tipicamente têm maior necessidade de capital de giro?
Setores com ciclos produtivos longos, como construção civil e indústria pesada, ou aqueles com alta sazonalidade, como agronegócio e moda, tendem a ter maior necessidade de capital de giro. Empresas B2B também costumam ter NCG maior devido aos prazos de recebimento mais longos.
4. Reduzir estoques não aumenta o risco de perder vendas por falta de produtos?
Sim, esse é um risco real. Por isso, a redução de estoques deve ser feita de forma estratégica, baseada em análise de dados de demanda e não simplesmente cortando níveis de estoque. Técnicas como classificação ABC, lotes econômicos de compra e estoques de segurança calculados ajudam a equilibrar a redução de estoques com o nível de serviço ao cliente.
5. Como avaliar se vale a pena oferecer descontos para pagamento antecipado?
Compare o desconto oferecido com seu custo de capital. Por exemplo, se você oferece 2% de desconto para pagamento à vista em vez de 30 dias, isso equivale a uma taxa mensal de aproximadamente 24% ao ano. Se seu custo de capital (como empréstimos bancários) for maior que isso, o desconto é vantajoso.
6. Quais são os sinais de alerta de que minha empresa está com problemas de capital de giro?
Alguns sinais incluem: dificuldade recorrente para pagar fornecedores no prazo, uso frequente de limites de cheque especial ou cartão de crédito para despesas operacionais, perda de descontos por pagamento antecipado, atrasos no pagamento de impostos e dificuldade para manter estoques adequados.
7. Como equilibrar a redução do capital de giro com oportunidades de crescimento?
O objetivo não deve ser minimizar o capital de giro a qualquer custo, mas otimizá-lo para liberar recursos para investimentos estratégicos. Algumas oportunidades de crescimento podem exigir aumento temporário do capital de giro, o que é saudável desde que haja um plano claro para retorno sobre esse investimento.
8. Quais ferramentas tecnológicas podem ajudar na gestão do capital de giro?
Além de sistemas ERP com módulos financeiros, existem ferramentas específicas como:
- Softwares de gestão de estoque com previsão de demanda
- Plataformas de automação de cobrança
- Sistemas de gestão de fornecedores
- Aplicativos de conciliação bancária automática
- Dashboards financeiros com indicadores de capital de giro em tempo real
9. Como a sazonalidade afeta a gestão do capital de giro?
Empresas com forte sazonalidade precisam de estratégias específicas, como:
- Negociação de condições especiais com fornecedores para períodos de alta
- Linhas de crédito sazonais com pagamento alinhado ao ciclo de vendas
- Diversificação de produtos para reduzir impacto da sazonalidade
- Planejamento antecipado de estoques e fluxo de caixa para períodos de pico
10. É possível terceirizar a gestão de capital de giro?
Embora a responsabilidade final seja da empresa, existem serviços que podem auxiliar em aspectos específicos, como:
- Consultorias especializadas em otimização de capital de giro
- Serviços de gestão de recebíveis e cobrança
- Operadores logísticos que assumem a gestão de estoques
- Plataformas de supply chain finance que otimizam o ciclo financeiro